…futebol-espetáculo
Quem continua a querer que a arbitragem seja feita a olho nu e a correr no campo ou é ignorante ou pensa que a pode manipular a seu bel-prazer
Aqui neste jornal, em 7 de outubro de 2015, escrevemos um artigo sobre a matéria cuja leitura recomendamos, até para se perceber a ignorância e impreparação de muitos árbitros do futebol profissional português que, para além de falta de preparação técnico-científica no trabalho que fazem, revelam também grande impreparação em questões sociais e jurídicas, chegando ao ponto, segundo o “Correio da Manhã” de 23 de agosto de 2015, de exigirem a Pedro Proença, presidente da Liga de Clubes, castigos aos críticos das suas atuações profissionais, quer a clubes quer a dirigentes e treinadores, porque consideram isso “uma situação intolerável”.
Já o afirmámos (7 de outubro de 2015, pág. 31 do jornal i), mas reiteramos o nosso espanto e indignação por tal postura mental, que mais se enquadra num país como a Turquia ou a Coreia do Norte, para ficar por aqui, que aí sim, não há direitos humanos nem os autóctones são iguais perante a lei.
Mas Portugal é uma democracia plural, embora certos árbitros, segundo parece, pensem que estamos no tempo da ditadura.
Mas, agora, a questão assume outra dimensão, e é ela esta: todo o profissional, ao exercer a sua atividade profissional, deve ser enquadrado, controlado, com avaliação do seu trabalho por entidade própria, constituída para esse objetivo, tendo em vista a regulação dessa atividade, com o propósito de garantir o seu bom e normal funcionamento, que se considera de interesse social.
Só que os clubes de futebol, ao tornarem-se empresas (sociedades anónimas) e ao atingirem uma dimensão enorme em tudo – até em passivos –, esqueceram-se de proteger os seus interesses ao não cuidarem de assegurar uma arbitragem 100% profissional, com pessoas altamente preparadas e bem pagas, com estatuto social alto, para garantirem competência, isenção, seriedade e imparcialidade, única forma de não serem prejudicados a não ser pela fraca prestação das suas equipas em campo, ou seja, não tomaram a atenção devida a um pequeno pormenor: estão hoje em causa, em cada jogo, milhões de euros, os treinadores e jogadores ganham milhões, mas quem “pode” decidir o jogo (para o bem e para o mal) ganha o quê? Um jantar, uma gratificação, um salário modesto e, pior que isso, muitas vezes com pouca preparação técnico-científica e com pouca cultura geral, o que, infelizmente, pode vir a confundir-se com outras coisas…
Há que defender o futebol profissional, que não é desporto, é apenas o ganha-pão de muitos trabalhadores do desporto profissional, que deve depender da inspeção dos espetáculos e, neste sentido, organizar-se com uma estrutura profissional, de dirigentes, jogadores e árbitros, com obrigações e direitos, mas todos passíveis de sanções disciplinares, quando for julgado adequado, pelos órgãos próprios para o efeito.
Sobre a arbitragem, quem continua a querer que ela seja feita a olho nu e a correr no campo ou é ignorante ou pensa que a pode manipular a seu bel–prazer.
Há que criar condições para impedir a corrupção em todas as atividades do país, e esta, já que é uma atividade importante e que movimenta milhões, deve ter a intervenção do Estado para a proteger da corrupção e evitar tumultos sociais, e até centenas de mortes.
Como? É simples: dando formação adequada a todos os intervenientes e regulando o setor como uma indústria que é!
N.B. – Sem meios eletrónicos adequados, o resultado é aquele que o árbitro quiser. Ninguém, hoje, é capaz de dizer, a olho nu, quem é o vencedor de uma corrida de 100 metros planos.
O futebol, neste aspeto, está na Idade da Pedra, e isso favorece a corrupção.