20/02/16 07:00
Futebol no divã: Árbitro de Vídeo pode impactar estilos de jogo e decisões do apito
Bernardo Mello – O Globo
A provável introdução do Árbitro de Vídeo (AV) em jogos do Campeonato Brasileiro deste ano pode trazer mudanças mais profundas do que a simples elucidação de dúvidas da arbitragem. O novo personagem avisará o árbitro de campo sobre irregularidades não assinaldas, como um gol marcado em impedimento ou um pênalti que foi fora da área.
A reportagem do GLOBO procurou treinadores e comentaristas para saber se a medida representa um benefício aos times acostumados a se fechar na defesa, com a postura de “jogar por uma bola”. Na teoria, essas são as equipes mais suscetíveis a erros de arbitragem, por estarem no limite do erro. Um time como o Barcelona, que marca gols em excesso, se ressente menos de falhas do apito que resultem em gols para os adversários.
— Pode acabar ajudando os clubes menores, que normalmente são os mais prejudicados. Talvez até seja uma influência mais psicológica do que prática. A sensação de se achar mais amparado, respaldado por um olhar externo, pode ser uma força psicológica. Não sei se na prática vai fazer diferença, devido ao abismo econômico cada vez maior entre pequenos e grandes — avalia o comentarista Lédio Carmona, do canal Sportv.
Eduardo Baptista, treinador do Fluminense, admite que a novidade pode mudar até o comportamento da arbitragem para, na dúvida, validar gols ou faltas duvidosas. Com o auxílio das imagens, o AV poderia depois avisar ao juiz que o lance foi ilegal. Baptista, no entanto, acha que a discussão não é tão simples como um ataque contra defesa.
— De repente esse time que joga por uma bola, por exemplo, se fechou porque abriu o placar em um pênalti que não existiu. O Árbitro de Vídeo não vai favorecer A ou B, mas o futebol como um todo — acredita.
O ex-jogador Júnior, hoje comentarista da TV Globo, tem opinião semelhante:
— Eu ainda não consigo visualizar esse benefício a quem joga por uma bola. Lógico que um time assim teria mais problemas em um erro de arbitragem. Se um time tem 80% de posse de bola, o outro tem uma probabilidade menor de sucesso. Mas futebol não vive de hipóteses. — pondera.
‘QUESTÃO DE JUSTIÇA’
Entre aqueles que aprovam o uso de tecnologia para diminuir erros de arbitragem, o consenso é que a medida, ainda que beneficie determinado estilo de jogo, vai trazer mais justiça aos resultados.
—É uma questão de justiça. Erros absurdos acontecem contra equipes grandes ou pequenas. Nós sofremos com isso no Brasileiro do ano passado. Empatamos três jogos (Cruzeiro, Avaí e Chapecoense, todos no returno) que, se não fossem erros, poderíamos ter ganho. Isso fez diferença no nosso rebaixamento — destaca Jorginho, técnico do Vasco.
Embora enxergue evolução no futebol com uso da tecnologia, Ricardo Gomes ressalta que as polêmicas de arbitragem podem se desviar ainda mais para lances interpretativos, que não podem ser julgados apenas com o uso do vídeo.
— A verdade não é absoluta no vídeo. A questão de mão na bola ou bola na mão é a mais complexa. A maioria das discussões no último Brasileiro foi em cima disso. Precisamos pensar de novo nessa regra. O vídeo poderia ajudar nisso, mas é complexo — afirma o treinador do Botafogo.