Entrevista – Parte 3

Cumprindo a Circular 1104/FIFA/15.08.07 e orientações da Conmebol as árbitras deverão alcançar os índices estabelecidos para o quadro masculino….

31 – Pela Imprensa, pudemos acompanhar que houve grande pressão política vinda do Nordeste por conta disto.

R – Temos que respeitar o desejo das pessoas que insistiram para que ele permanecesse até completar os 45 anos, em 2009. Por outro lado, todos estavam conscientes da saída dele e até entendiam como necessária. É natural e compreensível que as pessoas tentem ajudar, mas como dirigentes não podemos agir com o coração, e sim com a razão. Fica um alerta aos árbitros internacionais de que o escudo não é vitálicio.

32 – Como o Wilson Mendonça reagiu e quem entrou no seu lugar?

R – Logicamente que não gostou da decisão, mas passado o baque o árbitro prossegue com sua carreira. Em relação a entrar no lugar, a ordem de prioridade estabelecida foi Evandro Rogério Roman/PR, Marcelo de Lima Henrique/RJ e José Henrique de Carvalho/SP. O critério, mais uma vez, está nos números de 2007, ou seja, o Evandro atuou em 29 partidas, o Sérgio Carvalho/DF, em 28 e o Marcelo, em 23. Como o Sérgio Carvalho jubilaria em 2008, abriu-se um espaço para o Marcelo que, sem dúvida, irá longe.

33 – Por que houve tantas mudanças no quadro feminino?

R – Por conta das reprovações nas avaliações físicas. A Fifa está cada vez mais exigente. A Cleidy Ribeiro/SC, por exemplo, estava no Mundial da China e nos seis tiros de 40 metros ela fez 6,42 segundos e teve que dar um sétimo tiro, atingindo 6,41 segundos, quando o exigido para o genêro feminino é 6,40 segundos. Depois fez os 20 tiros de 150 metros e passou em todos. Todavia, aquele centésimo custou sua vaga. Já no teste da CBF, em setembro, ela passou e bem em todos. A Ana Paula, por lesão, e a Marlei não terminaram os testes, e a Ticiana estava contundida e grávida. É importante que possamos tirar lições do assunto e a comissão irá realizar os testes com 90 dias da data-limite para envio para, se ocorrer tal infortúnio, as pessoas possam realizar nova prova. O critério adotado foi igual para todos. Era necessário tomar esta decisão, pois a FIFA exigirá cada vez mais de seus árbitros. O objetivo da CA é que, as que obtiverem êxito na prova masculina, aos poucos, substituam aquelas que não conseguem. Isto vai levar mais uns dois ou três anos, mas será feito. Elas que se preparem.

34 – A assistente Katiúscia Mayer Berger Mendonça, do Espírito Santo, teve uma carreira meteórica: estreou no ano passado e já foi indicada para o quadro. Competência, sorte, política ou falta de um outro nome?

R – Não foi meteórica. Ela tem uma carreira no seu estado e na CBF, tanto que demonstrou competência, sendo apontada por vários internacionais como uma das melhores do Brasil. Ela foi indicada e aprovada nos testes físicos. Inclusive agora, no Sub-17 Feminino, no Chile, por um equivoco do avaliador que anotou uma volta a menos e em dúvida, a mesma repetiu o teste no dia seguinte e passou sobrando. A sua atuação chamou a atenção, tanto que já trabalhou em três jogos consecutivos e somente não ficará por conta da classificação do Brasil. Agora, se ela e outras realizarem os indices masculinos, com certeza serão promovidas. AS que ficarem apenas nos indices femininos não serão esquecidas, mas atuarão no feminino apenas.

35 – Outras assistentes surgiram para o cenário nacional junto com a Ana Paula e a Sílvia Regina e como estão elas neste cenário?

R – Boa pergunta. A arbitragem feminina estava restrita a uma região, tanto que a Ana Paula, de 2003 a 2007, realizou 69 partidas, sendo que 68 foram na Série A e 1 na Série B. A Maria Eliza realizou 55 jogos, sendo 42 na Série A, 11 na B e 2 na C. A Aline 47 jogos, sendo 28 na A, 10 na B e 9 na C. A Maria Eliza foi escolhida pela Comissão por ter realizado 42 jogos na Série A contra 28 da terceira opção. Aliás o número de jogos que cada um realizar vem sendo considerado até que a Classificação Nacional dos Árbitros seja estabelecida.

Falando em jogos ninguém cita, por exemplo, no feminino, a Cleidy Ribeiro/SC, uma das mais antigas assistentes na FIFA (desde 1996), com várias convocações internacionais, e com poucas oportunidades em relação a algumas. Em, 2007, a mesma fez 9 partidas e muito bem. No lado masculino, o Milton Otaviano/RN que atuou mais em 2007 do que em sua carreira toda. Apontem um erro deste grande auxiliar? Aliar competência com as mesmas oportunidades é fazer justiça.

Para encerrar este assunto, reitero que não temos que olhar apenas para um ou dois estados do Brasil, mesmo tendo a opinião de que alguns são maiores do que muitos países, portanto com possibilidade de termos vários árbitros e assistentes internacionais. Digo isto, pois a CA-CBF tem noção e respeito pelas 27 federações. Ao final da Série A/2007, tivemos quatro árbitros de estados sem oportunidades, tais como o Amapá, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins. Temos que proporcionar que os talentos tenham suas oportunidades, porém deverão demonstrar qualificação no que faz.

36 – Ana Paula: as fotos interferiram na sua permanência no quadro?

R – De forma alguma. Ela tem direito à sua vida pessoal, desde que isto não interfira no seu trabalho em campo. Como poderiamos afirmar que tal decisão iria interferir na sua carreira se não tivemos a oportunidade de saber? Ela foi reprovada no teste físico e ela mesmo informou que não teria como passar no período determinado para envio da lista, assim como não conseguiu, ainda, a aprovação total. Em São Paulo, a comissão criou uma tabela progressiva de aprovação para os árbitros e eles terão um prazo para atingir suas metas. Esperamos e torceremos que eles aproveitem esta oportunidade e sejam aprovados muito rapidamente, pois não se pode perder experiência e qualidade, mas não podemos mudar um conceito que estava definido previamente.

37 – No site do Safesp, tem uma noticia que ela volta neste Paulista, mas ela não está no ranking da FPF. Mesmo asism poderá ser escalada?

R – Ela não está no ranking por conta da avaliação física, mas com certeza será incluída e voltará a atuar e ai se poderá avaliar como está a Ana Paula na função em que ela ganhou toda esta projeção.

38 – Não existe o risco de jovens modelos usarem a arbitragem para se promoverem?

R – Fica a critério de cada um. São escolhas que devemos fazer. Cada um escolhe um caminho.

39 – Como ingressar na CBF?

R – A CA-CBF expediu há quase duas semanas a Circular nº 33, com as orientações gerais sobre o ingresso. Os interessados poderão tomar conhecimento via comissão estadual de arbitragem, porém como o documento já foi publicado em alguns sites das Federações e a CA encaminhou um documento sobre o assunto aos árbitros da RENAF 2007, posso adiantar resumidamente algumas novidades:

Para o primeiro ingresso os árbitros deverão ter, no mínimo, 21 anos completos (nascidos em 1987, ou antes) e ter até 35 anos no presente ano (nascidos em 1973 ou depois), a menos que o candidato já haja pertencido, em época anterior, a RENAF; ter ou estar cursando o terceiro grau, sendo que isto não é engessado, cada caso encaminhado será analisado e deliberado pela comissão nacional. O motivo é simples, o Brasil é um país gigantesco e as diferenças e dificuldades regionais para se estudar ou para ingressar na arbitragem devem ser consideradas. Temos o papel de incentivadores da cultura, mas não podemos fechar os olhos para a realidade nacional. Que fique o alerta, para 2009, a ideia é reduzir a idade de acesso para 30 anos. As Federações devem renovar seus quadros por todas as exigências, do contrário, ficaremos a margem e correndo o risco de não termos opções para o Mundial de 2014, no nosso país. Por tudo isto, muitas mudanças estão planejadas e teremos que enfrentar muitos que não pensam de maneira macro.

Cumprindo a Circular 1104/FIFA/15.08.07 e orientações da Conmebol a árbitra e a árbitra assistente, para atuar em competições masculinas deverão alcançar os índices estabelecidos, respectivamente, para o quadro masculino; porém as árbitras e árbitras assistentes que não obtiverem o limite estabelecido para homens, mas atinjam os índices femininos poderão vir a integrar a RENAF-FEMININA 2008;

Outra exigência é quando ao exercício regular de suas funções em partidas do futebol profissional (1ª/2ª Divisão) nos últimos dois anos (2007/2008), sendo que o  índice de aproveitamento nas arbitragens feitas nas respectivas Federações, nas mencionadas divisões.

E, uma dica, vai reduzir ainda mais. As entidades já foram avisadas.

40 – Qual a razão do árbitro CBF não utilizar o escudo nas competições estaduais e o FIFA ostentar o seu no Brasileiro?

R – A partir de 2008 isto pode mudar, pois os integrantes da Relação Nacional receberão automaticamente os respectivos escudos de suas funções (árbitro ou de árbitro assistente), devendo utilizá-los em todas as partidas nacionais e, a critério das CEAF´s, poderá ostentar o escudo nas competições estaduais, portanto a decisão cabe a CEAF local em autorizar ou não. Sou de opinião favorável, pois indica um degrau a mais na carreira do profissional de arbitragem e isto deve ser valorizado. Como as Federações são entidades privadas, não podemos determinar, mas sugerir.

Continua….

 

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Autor: Sérgio Corrêa

Árbitro na Federação Paulista de Futebol (1981-2001) e da Confederação Brasileira de Futebol (1989 a 2001); Ocupou cargos administrativos no Sindicato dos dos Árbitros de futebol-SP, entre 1990-93 e 1996-03, Eleito e reeleito presidente para dois mandatos: o primeiro compreendido entre 03/02/2003 a 08/04/207 e o segundo, de 09/04/2007 a 08/04/2011. Deixou a função para assumir a presidência da CA-CBF. Pela Associação Nacional dos Árbitros de Futebol ocupou os cargos de secretário-geral, entre 25/10/1997 e 13/05/2003. Na Comissão de Arbitragem da CBF, foi secretário-geral entre 28/10/2005 e 06/08/2007. Nomeado presidente da CA-CBF em duas oportunidades, a primeira entre 07/08/2007 a 22/08/2012, e a segunda, de 13/05/2014 a 28/09/2016. Também foi diretor-presidente da Escola Nacional de Arbitragem de Futebol, entre 07/01/2013 a 12/05/2014. Chefiou o DA de 22/08/12 a 25/04/22 e liderou o projeto de árbitro assistente de vídeo junto a FIFA de 15/09/2015 a 25/04/2022. Retornei do Rio de Janeiro, em 28/04/2022. Missão cumprida !

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