Voltando ao tema da Escola de Árbitros, reprouzo mais um grande reportagem da Revista Placar, cujo número e ano ainda não divulgarei, por um motivo simples: Este trabalho editorial serve até para os dias atuais….
Pergunto quando isto ocorreu? É possível que ainda ocorra?
Todos os anos, entre 80 e 100 novos juízes são formados
É fácil entrar na Escola de Árbitros, não é muito dificil conseguir o diploma, e ser um dos 150 inscritos no quadro oficial é coisa que geralmente se acaba conseguindo. Difícil é ser um dos quinze que sempre estão apitando, ganhando dinheiro, glória e correndo sobretudo alguns perigos.
O Diretor do Departamento de Árbitros durante muitos ano, conta que certa vez, sem avisar ninguém, foi a uma cidade distante ver um jogo da principal divisão.
– Fiquei sentado nas gerais e, quando o juiz pisou em campo, a torcida começou a chamá-lo de todos os palavrões imagináveis. Ele estava calado e alguns, notando meu silêncio, perguntaram por que eu não xingava também:
“Você não acha que são todos uns ladrões e que o preidente da Federação, aqueles caras do Departamento de Árbitros e esses juízes são todos uns safados?”
– Respondi que sim e passei o jogo todo xingando mais alto do que todos. Era a melhor maneira de sair dali sem correr o risco de levar uma surra ou de ser identificado como o próprio Diretor de Árbitros, um dos “safados”.
Ladrão, safado, bicha, urubu, gato, gaveteiro, robualdo…
Esse juiz eu manjo, já perdemos o jogo. Esse é aquele ladrão. Se eu pegasse esse cara. Esse cara rouba até cego.
Todas essas ofensas fazem parte do mundo do futebol. Do todo que cerca uma partida e faz terminar com os 90 minutos – ou prolongar-se até uma outra, tão importante quanto ela. Mas por que alguns torcedores xingam antes mesmo de começar o jogo? O que os juizes acham de tudo isso?
– Eu xingo de safedeza. De brincadeira, para alegrar. Às vezes, nem vi direito quem é o juiz.
Gato, tanto faz, xingar antes como depois de errar. Ele vai roubar mesmo.
QUEIXAS
– Eles xingam o juiz, não o homem. Trata-se de um problema de transferência. Eles sentem necessidade de reagir contra alguma pessoa, já que não podem reagir contra aquelas que gostariam: o patrão, a sogra, a mulher (Agripino A Domingues, psicólogo).
– Entro em campo rindo. Eles têm direito, pagaram e estão na deles. A policia deixa, a lei permite, por que é que eu vou me importar? Tenho bronca é de quem não paga e xinga. Esses não têm direito (DWB).
Quando entro em campo, gosto de sentir a fúria da turma. Se não gritam, não me sinto bem. O árbitro é um artista e, por isso, precisa de um público exigente. Já chorei de alegria ao entrar num campo lotado. Foi num grande clássico do interior, onde nasci e pulei muito muro para ver jogo (VJP).
– Tenho duas maes, a que fica em casa e a que vai para a boca da torcida. Não ligo se ofendem essa segunda. (RNM),
Bandido ou mocinho, dependendo quase sempre do resultado do jogo e algumas vezes dele mesmo, não é mais fácil a um juiz chegar à posição de ouvir todos os “elogios” de uma multidão, que pagou caro para ter o “direito” de dizê-los. Quem quiser ser juiz (e ser xingado), ganhar dinheiro, receber garantias, fugir das peladas no amador e praias, precisa fazer um curso e uma carreira.
ESCOLA DE ÁRBITROS.
Em São Paulo, como na maioria dos estados, só pode pertencer ao quadro de juizes quem primeiro passsar pela Escola de Árbitros. O curso é dado em trinta aulas semanais, com uma hora de duração, sobre leis e regulamentos esportivos. Além dessas matérias, os alunos fazem também educação física. O limite máximo de faltas é de 20% das aulas dadas.
– A escola só pode dar a filosofia da coisa. Ensina a lei, dá noções, mas não passa disso. Aptidão ninguem pode dar. Isso não se compra em armazém. Nem aptidão, nem comando, nem autoridade. Coisas muito importantes para quem q uer ser juiz.
FI, professor de leis e regulamentos, confinuou falando de alguns pontos que explicam a carreira e certas atitudes dos juízes.
– Uma coisa é a sala de aula; outra, o campo. É fácil encontrar juízes que conhecem as dezessete regras, mas que são incapazes de aplicá-las. Alguns demoram mais um pouco, sobem mais lentamente. É o caso de VS, AL, do NCB. E alguns, como o MJ, estacionam.
Para FI, um dos problemas mais sérios é a facilidade com que se queima juízes e bandeirinhas, tanto na capital como no interior ou mesmo no Campeonato Nacional: “Basta errar um impedimento para pedirem sua cabeça”.
– Outra coisa, em …. exigiu-se uma renovação muito rápida aqui em São Paulo. Afastaram alguns juízes mais antigos e, por necessidade, lançaram alguns novos, bons, mas sem a tarimba necessária. Eles apanharam muito e só agora se firmaram. Normalmente, só agora eles deviam estar deixando os jogos juvenis para apitar os da segunda divisão.
Para entrar na Escola de Árbitros, o candidato precisa ter diploma ginasial, provar que tem emprego fixo há mais de um ano, altura mínima de 1,68 metro, boa saúde e aptidão física.
– O diploma ginasial é exigido para eliminar os analfabetos. Estimuolu gente de bom nível intelectual e, hoje, muitos juízes são militares graduados, professores de educação física, estudantes univesitários, advogados, dentistas. O ROB, por exemplo, tem vários cursos nos Estados Unidos sobre petróleo.
GUERRA
Depois de aprovado pela Escola e de requerer sua inscrição no quadro de árbitros, apresentando declaração de bens, o “juiz começa sua guerra. É ele contra todos, às vezes até mesmo contra os bandeirinhas, que insistem em errar”.
Apita campeonatos amadores, campeonatos internos de clubes sociais, amadores do interior, classistas, infantis, juvenis, bandeira segunda divisão, apita na segunda, passa para a primeira e, um dia, chega aos “grandes palcos”, onde a coisa é muito mais fácil.
– Difícil é apitar lá no interior, onde não há garantias. Morumbi, Pacaembu, Maracanã, Mineirão, esses campos são molezas (DWB).
QUANTO GANHAM
No início da carreira, apitando na capital ou na divisa com outro estado, o juiz ganha X. Na terceira, triplica, na segunda quadriplica e na primeira, o valor é seis vezes maior. Um clássico, multiplica por vinte….
Juiz de futebol ganha muito ou pouco? O AM está perto de 20 vezes o valor de um árbitro que atua no clássico.
No campeonato nacional, 60 vezes o valor do amador…. Os principais juízes de São Paulo, durnte o ano inteiro, não ganham menos do que 100 vezes o valor do amador por mês.
– Ganhamos pouco (DWB).
– Não somos bem pagos. Sei o que ganho me ajuda bastante, mas não é uma fortuna, como muitos pensam. É preciso, primeiro ver o que a gente tem que enfrentar. Pressões, agressões etc (EVP).
– E isso a gente só ganha depois de muita luta. São poucos os que chegam lá. Eu só não desisti porque vivo futebol e sou um cabeça-dura. Só me realizo dentro de campo. Não quero nem mesmo ser bandeira. Só juiz.
(…)
ÁRBITRO-MODELO
RNM, em três anos de arbitragem, já foi apontado como um dos juízes de maior futuro do nosso futebol e já apanhou da torcida num jogo em que o time perdeu de 5 x 1. “Eles reclamavam um impedimento que não aconteceu no terceiro gol”.
Em outra cidade do interior, precisou sair correndo, num carro de polícia.
Também teve que esperar horas para deixar o estádio, de entrar numa viatura da polícia, com uma outra na frente e outra atrás, para maior proteção, de ver bombas de gás serem lançadas contra os torcedores, de ver uma tropa de choque prender oito deles, o árbitro, ainda precisou ser escoltado com mais de 100 quilômetros.
(…)
REGRAS
Para deixar uma cidade, uma vez, DWB simulou um desmaio e assim mesmo só saiu do estádio entre onze e meia noite: o campo não era iluminado.
De quem é a culpa pelas agressões e ofensas, pelo juiz ser sempre bandido ou mocinho?
– De jogadores, diretores e torcedores, que não conhecem as dezessete regaras do futebol (JFN).
– Dos juízes, que sempre desprezam as dezessete regras para aplicarem a 18ª, aquela que eles mesmos fizeram. Uma hora vale a tal de lei de vantagem; logo em seguida não vale. (AB – torcedor).
– O maior inimigo do juiz é o próprio juiz. É uma classe desunida. Certa vez, o GPF estava na dependência de exames médicos para permanecer no quadro de árbitros. Só por isto havia cinco colegas pedindo para entrar em sua vaga (AF).
Encerro o texto acima perguntando: Em que ano isto ocorreu?
Vamos em frente e até a próxima!
Referência
Revista Placar