Árbitros elogiam inovação

Apesar de estarem pagando em dobro a taxa de arbitragem, os dirigentes também fizeram elogios.

FÁBIO VICTOR, da Reportagem Local  e LUCIANO CALAFIORI, da Folha Campinas

Média de bola em jogo com a presença de dois árbitros em campo supera em 11,7% meta que foi estabelecida pela Fifa

A dupla arbitragem, maior novidade do Campeonato Paulista de 2000, será estendida para a segunda fase da competição, quando entrarão os quatro maiores clubes do Estado (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo).

Embora não tenha sido feito ainda o anúncio oficial, o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Eduardo José Farah, garantiu à Folha que os chamados “grandes” também terão, a partir de 8 de março, dois juízes apitando suas partidas.

A princípio, a dupla arbitragem seria testada nas cinco primeiras rodadas do torneio. Como apresentou bons resultados, foi ampliada para toda a primeira fase.

A experiência vem sendo usada como “laboratório” para a Fifa, entidade dirigente do futebol mundial, que estuda utilizar a dupla arbitragem em seus torneios.

Faltando apenas duas rodadas para o encerramento da primeira fase do Paulista, as estatísticas da FPF indicam clara evolução em alguns dos principais referenciais da qualidade de uma partida.

O mais evidente é o tempo de bola em jogo. Nas 48 partidas realizadas até agora, a média de bola em jogo é de 66min42s, um recorde em torneios nacionais, em que a média fica entre 55min e 58min.

A Fifa estipula como ideal um tempo de 60 minutos de jogo efetivo. Ou seja, a média do Paulista é 11,7% maior do que esta meta.

Também caiu o número de faltas e cartões amarelos e cresceu a média de gols (veja quadro).

“Não tenho dúvida de que é a solução para a arbitragem. A idéia é que, com a prática, tenhamos dois árbitros mas um só apito”, afirmou Gustavo Caetano Rogério, diretor da Escola de Árbitros da FPF.

Aspectos positivos da novidade são:

1) maior equilíbrio físico e psicológico para o árbitro. Normalmente, ele corre entre 9 km e 11 km durante um jogo. Com dois árbitros, o índice cai para cerca de 6 km. “Os maiores erros acontecem nos 15 minutos finais dos jogos, pois os árbitros estão cansados. Agora isso não ocorre mais. Além disso, eles diminuem a carga de responsabilidade, pois o dever é dividido com o outro”, disse Caetano Rogério;

2) maior proximidade da jogada. “O árbitro inibe o atleta a usar a jogada violenta e erra menos.”;

3) maior dinamismo ao jogo. “Diminuem as faltas e, principalmente, a cera nas bolas paradas, levando à agilização. A cera mata o jogo, e a dupla arbitragem está matando a cera.”

No aspecto disciplinar, outro dado que chama a atenção é o aumento do número de expulsões.

Segundo Caetano Rogério, isso se explica pelo rigor que os árbitros estariam usando para punir os carrinhos por trás, o que, diz ele, não existia antes.

“Das 37 expulsões, 13 foram por carrinhos por trás”, afirmou.

O reflexo mais direto das estatísticas é a boa acolhida que a inovação vem tendo também entre jogadores, técnicos, dirigentes e os próprios árbitros.

“Estamos tendo muito mais tranquilidade para apitar e os jogadores nos respeitam muito mais. Temos brincado que apitar futebol virou uma coisa fácil”, disse Paulo César de Oliveira, que integra o quadro da Fifa e já apitou três jogos no Paulista-2000.

O recordista em atuações, Vladimir Vassoler (sete jogos), afirmou não ver pontos negativos. “A bola correndo significa mais espetáculo. Além disso, há espaço para surgirem novos árbitros.”

Segundo Paulo José Danelon, que já apitou seis vezes, a iniciativa fez com que as reclamações em relação às arbitragens praticamente acabassem.

“Foi a melhor coisa que já aconteceu na arbitragem nos últimos 15 anos”, declarou.
Há um rodízio entre os 40 árbitros da Série A-1. Alguns chegaram a defender a adoção de duplas fixas, alegando que isso geraria um maior entrosamento, mas depois voltaram atrás.

Para os técnicos Ricardo Gomes, do Guarani, e Juninho Fonseca, do Mogi Mirim, a dupla arbitragem é irreversível.

“Com dois em campo, cada um acaba a partida em melhor condição física e ambos acompanham a jogada bem de perto o tempo todo”, afirmou Ricardo Gomes.

“O mais importante é que os dois juízes ficam mais seguros em campo e têm uma apresentação mais regular. É um processo irreversível”, disse Juninho.

Para o atacante Sandro Gaúcho, do Mogi, que hoje é co-artilheiro do Campeonato Paulista, “diminuiu a margem de erro e o número de jogadas violentas também está menor.

Estamos mais tranquilos para jogar”.

Apesar de estarem pagando em dobro a taxa de arbitragem, os dirigentes também fizeram elogios.

“Sempre tivemos problemas com arbitragem. Acho que agora isso vai melhorar, pois a chance de erro é muito menor”, declarou o vice-presidente de futebol da Lusa, Ilídio Lico.

Torcida

Os torcedores ouvidos pela Folha se mostraram ainda confusos com a novidade, mas a maior parte disse ter aprovado a medida.

“Só fui notar que tinha dois juízes aos dez minutos. Pensei que o bandeirinha tivesse entrado em campo. Acho que é melhor, vai ter menos erro, mas não sei avaliar, pois fico muito emocionado, sou muito ponte-pretano”, disse o comerciante André Gil D”Ascenzi.

Embora em menor número, desvantagens também foram citadas pelos entrevistados.
Para o volante Carlinhos, da Lusa, estando mais próximos do lance, os juízes atrapalham mais as jogadas. Segundo Carlinhos, isso aconteceu na vitória da Lusa contra a Inter de Limeira, no último dia 6. “Por duas vezes, os árbitros Cléber Wellington Abade e Paulo José Danelon pararam as jogadas porque a bola esbarrava neles, por causa da proximidade”, disse.

Outras críticas são quanto ao número excessivo de cartões amarelos e à falta de entrosamento e experiência dos dois árbitros.

Para o técnico do União São João, de Araras, Heron Ferreira, muitas vezes os árbitros não estão entrosados sobre os critérios impostos pela FPF para a aplicação de cartões e acabam distribuindo-os inadequadamente.

Já o atacante Júnior Amorim, do União, reclamou da duplicidade de critérios. “Nem sempre eles têm o mesmo raciocínio. Isso tem causado um festival de cartões, levando o time a jogar desfalcado a cada duas partidas”, afirmou.

O jogador disse acreditar que, quando os grandes clubes entrarem na competição, será difícil manter essa conduta.

O árbitro Alfredo Santos Loebeling, que disse ter gostado da iniciativa, sugeriu, porém, uma evolução: “Quer ver ficar perfeito? É só colocar um intercomunicador entre os dois árbitros”.


Ficha Técnica da Final do Paulistão 2000:

São Paulo (Campeão) 2 x 2 Santos

Data: 18/06/2000, Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo-SP.

Árbitro: Alfredo dos Santos Loebeling e Ílson Honorato dos Santos.

Cartões Amarelos: Rogério Pinheiro(São Paulo) e Aílton(Santos). Cartão Vermelho: Ânderson Luís(Santos).

Gols: Dodô(Santos), aos 29/1T, Rogério Ceni(São Paulo), aos 38/1T, Rincón(Santos), aos 9/2T e Marcelinho Paraíba(São Paulo), aos 23/2T.

São Paulo: Rogério Ceni, Beletti, Edmílson, Rogério Pinheiro e Fábio Aurélio; Maldonado, Vágner, Marcelinho Paraíba e Raí(Fabiano, aos 41/2T); Edu(Carlos Miguel, aos 16/2T) e Evair(Sandro Hiroshi, aos 16/2T). Técnico: Levir Culpi.

Santos: Carlos Germano, Baiano, André Luís, Claudiomiro e Rubens Cardoso(Aílton, aos 22/2T); Ânderson Luís, Rincón, Robert e Valdo(Deivid, aos 19/2T); Caio(Márcio Santos, aos 32/2T) e Dodô. Técnico: Giba.


Colaboraram Marcelo Damato, da Reportagem Local, Vanderlei Nascimento, Gustavo Porto e Marcelo de Oliveira, free-lance para a Folha Campinas

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Autor: Sérgio Corrêa

Árbitro na Federação Paulista de Futebol (1981-2001) e da Confederação Brasileira de Futebol (1989 a 2001); Ocupou cargos administrativos no Sindicato dos dos Árbitros de futebol-SP, entre 1990-93 e 1996-03, Eleito e reeleito presidente para dois mandatos: o primeiro compreendido entre 03/02/2003 a 08/04/207 e o segundo, de 09/04/2007 a 08/04/2011. Deixou a função para assumir a presidência da CA-CBF. Pela Associação Nacional dos Árbitros de Futebol ocupou os cargos de secretário-geral, entre 25/10/1997 e 13/05/2003. Na Comissão de Arbitragem da CBF, foi secretário-geral entre 28/10/2005 e 06/08/2007. Nomeado presidente da CA-CBF em duas oportunidades, a primeira entre 07/08/2007 a 22/08/2012, e a segunda, de 13/05/2014 a 28/09/2016. Também foi diretor-presidente da Escola Nacional de Arbitragem de Futebol, entre 07/01/2013 a 12/05/2014. Chefiou o DA de 22/08/12 a 25/04/22 e liderou o projeto de árbitro assistente de vídeo junto a FIFA de 15/09/2015 a 25/04/2022. Retornei do Rio de Janeiro, em 28/04/2022. Missão cumprida !

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