Continuano o post anterior….
– Ele sempre faz dessas. Outro dia, soltei duas bolas. Sabe o que ele me falou? “Olha é melhor trocar de goleiro. Você tá muito ruim.” A gente não fica tão tenso, quando ele apita, principalmente em time grande.
– Um juiz excelente. Para mim, é uma cobra do apito. Nunca tive nada sério a reclamar dele.
– Esse conhece, tem categoria para ser escalado numa Copa do Mundo. É um sujeito sério, apesar de suas brincadeiras. Leva uma partida sem problemas, respeita o jogador como ser humano e dialoga com a gente.
Mora na capital, é neto de austríacos pelo lado da mãe, que não se interessa por futebol, e de italianos da Calábria, por parte do pai.
– Expulsei meu velho de campo duas vezes. Numa delas, no intervalo, sei lá como, ele ia entrando no gramado. Tinha um recado importante para mim, mas naquela hora na me interessava além da partida. Fingi que não o reconheci, chamei os guardas e gritei: “Olha aquele ali. Fora, fora com ele, rápido!”
A mãe é gaúcha, diz que torce para o marido. Os dois filhos, entretanto, não procuram mostrar a mesma isenção.
Os filhos torcem por equipes diferentes.
– Fiz o menino trocar de time a força. Imagine, ele queria ser… Não deixei.
– E você, perguntei ao árbitro?
– Todo mundo sabe. Sou…. Por que vou esconder?
Não estaria nesse meio se não gostasse de futebol. E quem gosta torce para algum clube. Mas torço assim. Se estou apitando, não quero nem saber. Se estou vendo o jogo, da arquibancada, só fico de olho no juiz.
– Esperando por sua desgraça?
– Olha, juiz é a classe mais desunida do mundo. Sei de muita gente que se alegra quando um companheiro vai mal, por achar que assim diminui a concorrência. Eu, sinceramente, procuro observar e aprender.
Um bom goleiro
Ser juiz nunca passou pela cabeça do goleiro que, pensava vagamente em se tornar um jogador famoso de futebol. Já casado, era goleiro nos fins de semana do Anay, um clube amador.
– E um bom goleiro, modéstia a parte. Uma vez, um famoso treinador argentino viu um jogo meu, me elogiou e só não me levou para sua equipe porque já tinha 25 anos e com essa idade não poderia começar uma carreira profissional. Pergunte para ele se não é verdade.
O treinador confirma.
– O vi jogando no amador, quando estava me iniciando como treinador dos juvenis. Ele tinha realmente grandes qualidades. Se fosse um pouco mais jovem, poderia se transformar num goleiro de primeira.
No amador, em compensação, foi descobrir a vocação de juiz.
– Quando passei a jogar no segundo quadro, me convidaram, na falta de outro, para apitar as partidas do time principal. Eu só pedida uma coisa: “Se não for bem, me tirem de campo, mas não batam.”
Eles me tiravam sempre no intervalo, porque eu não dava uma mãozinha para o time da casa. Um dia, o próprio presidente do clube achou que eu levava jeito e me aconselhou a fazer o curso para juízes na Federação. Eu nem sabia que existia esse curso, mas fui. E fiquei.
Diplomado, passou a ser escalado para jogos amadores, torneios internos em clubes e campeonatos entre presos. Logo depois, pulou para a Segunda Divisão de profissionais. E ai sentiu as durezas do oficio.
– Minha primeira prova de fogo foi longe. O presidente do clube, que depois seria prefeito da cidade, chegou para mim, assim que entrei no campo, se é que aquilo era campo, ameaçando: “se meu time não ganhar, você morre. Tome cuidado”. Não liguei muito para as ameaças, só expulsei um gandula e uma massagista bêbado, apitei direitinho e não aprontei nada. Mas a torcida, insuflada não quis saber. Umas quarentas pessoas invadiram o gramado para me pegar. O policiamento era muito pequeno e quatro vigilantes noturnos. Corri para o vestiário e fechei as portas. Não adiantou. Estavam quebVaos em frenterando os vidros. O que podia fazer? Peguei meu 38, abri a porta, dei três tiros e gritei: “venham!”
continua …..
Vamos em frente! até outro dia!