Conversando com o árbitro Claudio Vinicius Rodrigues Cerdeira sobre a arbitragem de outrora e ficamos tentando comparar o incomparável. Neste agradável diálogo, o nome do Cel. Aulio Nazareno, presidente da Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol – Cobraf na decada de 80/90 surgiu…
Pronto! Já tinha o sexto post…
Cruzamos com este grande dirigente em várias oportunidades. Numa delas foi em 1981, durante o curso de árbitros da FPF, do qual era um dos alunos. Na outra, igualmente importante, durante a fundação da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol – Anaf, em 25 de outubro de 1997, na Sede da Policia Federal – Centro do Rio de Janeiro.
Uma pena que este importante dirigente morreu alguns dias depois da fundação da referida entidade dos árbitros, em 06 de novembro, aos 73 anos, em conseqüência de um enfarte. Foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, sem ver publicado um dos livros mais relevantes sobre o tema arbitragem (veja foto do dirigente e do livro em destaque).
Na vida esportiva foi presidente da Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol e da Comissão de Arbitragem da Federação do Rio de Janeiro, de 1994 a 1995. Naquela época entre as mudanças que o coronel pretendia implantar no futebol carioca estava a criação de um quadro exclusivamente feminino e de um módulo de auxiliares, que atuariam somente como assistentes (conhecidos como bandeirinhas naquela época).
No curso de árbitros, este militar, de cabelos brancos, discreto é o Coronel Aulio Nazareno – presidente da Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol, durante sua estadia para a cerimônia de abertura de mais um curso de arbitragem promovida pela FPF deu uma entrevista que foi publicada no jornal A Gazeta Esportiva, em 11 de novembro de 1981.
Alto, inspira e transpirava respeito e credibilidade, durante sua apresentação nos disse que a arbitragem de futebol é uma das atividades mais fascinantes do mundo.
Leiam abaixo resumo do texto publicado, sendo que parte dele foi alvo do diálogo com o Cegonha (Cerdeira):
Ressaltou a presença de grandes plateias, lembrou que até as beatas deixam de rezar para um comentário sobre o futebol. Garantiu que não há explicação sociológica para esse comportamento:
“Como explicar ou definir o que felicidade?”
“O futebol é um alimento. Cerca de 90 % do público que comparece aos estádios não tem dinheiro para viver bem. Os torcedores acreditam no futebol e até vivem por ele. E nesse meio que muitos jovens que buscam cursos de arbitragem irão entrar. Os fatores que formam o futebol, aqui no Brasil, são imagináveis. Os árbitros resistem também as pressões e críticas de uma grande legião de insatisfeitos. Os árbitros detêm nas mãos a maior somatória de poder, que nenhuma outra pessoa possui. Os árbitros podem expulsar jogadores que ganham 4 milhões de cruzeiros por mês. Impedem a entrada de médico em campo, a polícia só entra quando os árbitros autorizam e vala mais os relógios do árbitro que do presidente da república, se ele estiver no estádio.
“Durante 90 minutos de jogo, os árbitros possuem apenas dois amigos: os auxiliares. Estão em permanente análise dos torcedores. O futebol tem coisas incríveis, consegue numa arquibancada, aproximar o general do gari…”
“O futebol consegue manifestações surpreendentes. Uma vez no colégio militar precisamos de muitas alas de um maestro para que o Hino Nacional fosse cantado afinado e correto. Nos estádios, os coros foram criados na hora e com perfeita afinação. Quando estou ao lado de amigos espanhóis e a torcida saúda os árbitros, eu digo que o povo esta cantando: vamos à luta… vamos à luta…”
“Os árbitros trem que resistir a tudo isso. A televisão mostra os principais lances para análises, mas os árbitros possuem frações de segundos para as decisões”.
“É claro que erram e quando isso acontece eles roubam alegrias. Tiram os sorrisos daqueles que foram os melhores. Mas daí a entrar no terreno da desonestidade vai uma distância grande. Os árbitros cometem falhas e admito que isso é terrível. E como se alguém jogassem areia numa máquina industrial…”
“Os árbitros têm que ter disposição física, devem estudar é acima de tudo ter coragem. Coragem é o grande ponto…”
“A coragem de arbitrar corretamente é indispensável. Não aceito covardes. Admito que em muitas situações as pressões são incríveis, mas não impossíveis de serem suportadas. Qual o árbitro que morreu por ter sofrido alguma agressão?”
“A mais dolorosa agressão é aquela que os árbitros fazem para eles mesmos, quando fingem não ter visto infrações…”
“Os bons árbitros são aqueles que não se deixam fascinar pelo poder. Só encontraram o sucesso aqueles que gostam inteiramente da arbitragem. Os árbitros são importantes, decidem tudo e milhares de pessoas podem chorar ou sorrir, dependendo das atuações dos apitadores. As decisões devem ser corretas, dentro da lei, justas…”
Aulio Nazareno acha difícil a presença de mulheres arbitrando, mas não é contrário: “Prefiro esperar um pouco mais para um pronunciamento oficial. Mas eu nunca sou contra as mulheres…”
“Apesar de todos os problemas ocorridos no Rio de Janeiro, quando os árbitros estão sendo acusados levianamente – nada foi provado – sinto-me à vontade para olhar os olhos de jovens sonhadores e garantir que vale a pena ser árbitro. Os grandes homens são aqueles que enfrentam grandes desafios. Erros são normais, cabe lutar para cometê-los. E a coragem de vencer o medo…”
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Sinopse do livro
Vamos em frente até qualquer hora!
Referências
- Texto publicado na Gazeta Esportiva, de 11/11/1981
- Folha de São Paulo, AJB, RJ – 06/11/1997
- Reproduzido por wanderleynogueira.com.br, em 08/02/2014
- Foto: print da entrevista reapresentada globoesporte.globo.com/bau-do-esporte.