Por Sandro Biaggi
O engenheiro civil boliviano Fernando Méndez Rivero, 63 anos, tem percorrido a América do Sul. Carrega uma pasta debaixo do braço e está sempre disposto a contar sua história. Esta é tão fantástica que chega a ser difícil de acreditar. Mas que ninguém diga isso a ele. Confrontado, tira documentos, desenhos, recortes amarelados de jornal e apresenta.
Rivero diz ser o inventor do VAR, o árbitro de vídeo usado pela Fifa na Copa do Mundo e cada vez mais adotado por federações nacionais.
“O que eu quero é o reconhecimento do meu trabalho e que a Fifa não roube a minha propriedade intelectual”, afirma.
Sua maior prova é um comprovante do Serviço Nacional de Propriedade Intelectual de La Paz com data de 2005. Teria sido quando o engenheiro patenteou a ideia de espalhar câmeras de vídeo pelo estádio, com as imagens analisadas por uma pessoa encarregada de auxiliar o árbitro dentro de campo.
“Eu gastei nove meses da minha vida fazendo o projeto, usando programas de computador como o Autocad. O VAR que vocês viram na Copa do Mundo é uma ideia minha”, completa.
Jogador do Oriente Petrolero na década de 70 e torcedor da equipe, Rivero afirma ter tido o estalo de criar o sistema em 2004, após seu clube do coração ter sido derrotado graças a erros da arbitragem em um clássico contra o Blooming. O resultado tirou as chances do Petrolero de ser campeão boliviano.
Quintero foi para casa após a partida pensando no que poderia ser feito para que erros como aqueles não voltassem a acontecer.
Segundo o boliviano, foi assim que nasceu o sistema que ajudou o árbitro argentino Néstor Pitana a marcar um pênalti na final da Copa do Mundo da Rússia. O lance colocou a França em vantagem no placar contra a Croácia.
“Não é que eu montei o projeto e engavetei. Enviei para 40 federações nacionais de outros continentes e para dez da América do Sul. Então é claro que as autoridades do futebol conheciam o assunto. Tenho também um documento da Federação Boliviana de quando o apresentei.”
Uma das autoridades seria Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF.
“Ele me telefonou para elogiar a ideia. Disse que era muito boa e que trabalharia por ela. Depois nunca mais recebi nenhum comunicado dele.”
O Yahoo Esportes tentou entrar em contato com Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012. Mas ele não atendeu às ligações da reportagem ou respondeu a mensagens enviadas.
No início de agosto, o engenheiro esteve na sede da Confederação Sul-Americana, em Assunção. Entregou um dossiê do que crê ser sua criação. Também percorre outras nações do continente para tentar audiência com dirigentes e explicar a reclamação. Em setembro, deve ir a Buenos Aires visitar a sede da AFA (Associação de Futebol Argentino).
Também deseja que o governo boliviano patrocine sua causa.
“Seria lindo a Fifa reconhecer que uma ideia que revolucionou o futebol veio de um engenheiro desconhecido da Bolívia. Seria muito bom para toda a América do Sul”, afirma.
Não será tarefa fácil. A Fifa esclarece desconhecer o assunto e descarta ter tirado a ideia de qualquer inventor. O sistema eletrônico de arbitragem já vinha sendo discutido há anos e não há registro da influência de Fernando Méndez Rivero.
O engenheiro quer uma indenização de US$ 500 mil de cada federação nacional que usou o VAR e o mesmo valor da Fifa pela utilização na Copa do Mundo.
Outro argumento que deixa Rivero bravo é afirmar que ele está atrás apenas da recompensa financeira.
“Claro que mereço o pagamento. As pessoas podem achar que estou atrás apenas do dinheiro, mas há algum criador que não queira a recompensa material do que criou?”
A lamentação do boliviano é pela demora em apresentar seu pedido. Isso porque ele afirma não estar informado do uso do VAR pela Fifa. Foi alertado por um amigo que encontrou o antigo relatório de 2005 levado à Federação do país.
“Ele me disse que aquilo ia ser usado na Copa do Mundo. Duvidei. Mas quando vi os jogos… Senti orgulho. Aquela era a minha ideia implantada no torneio de futebol mais importante do mundo. Mas como qualquer pessoa normal, quero reconhecimento pela minha criação”, finaliza.