No Brasil, árbitro de vídeo pode ter até um quarto das câmeras da Copa
Tecnologia será utilizada a partir das quartas de final da Copa do Brasil
POR MATHEUS MEYOHAS –
Estrutura do VAR na Copa do Mundo tinha 33 câmeras por jogo – MLADEN ANTONOV / Agência O Globo
RIO – A Copa do Mundo não deixou dúvidas: o uso da tecnologia no futebol chegou para ficar. No Brasil, o árbitro de vídeo ainda não foi instalado para todas as competições, mas vai começar a dar as caras este ano. A partir das quartas de final, a Copa do Brasil vai contar com auxílio do VAR, como ficou conhecido durante o Mundial. Mas a estrutura não será exatamente a mesma da usada na Rússia. A começar pelo número de câmeras. Na Copa, foram 33 espalhadas em cada uma das arenas. No Brasil, a expectativa é trabalhar com um número que pode ir de sete a 19 por jogo.
As câmeras usadas pertencem a uma estrutura já usada pela Rede Globo, que vai ceder as imagens à Broadcasting, empresa responsável pela operação do VAR. Mas esse não parece ser um problema. Para o coordenador do árbitro de vídeo da CBF, Sérgio Corrêa, o número de câmeras é mais do que suficiente para a atuação do árbitro de vídeo nos lances esperados.
A expectativa da comissão de arbitragem não é acabar com o erro no futebol, mas sim com as grandes injustiças. De acordo com Sérgio Corrêa, espera-se um índice de 96 a 97% de acertos com o árbitro de vídeo.
Ao contrário da Copa, em que uma central comandava o árbitro de vídeo por fibras óticas, a cabine do VAR será instalada em locais adequados dentro de cada estádio. A expectativa é ter quatro profissionais trabalhando dentro desta sala: o árbitro de vídeo, um assistente, um operador e um supervisor. Caso o número de câmeras ultrapasse as 12 previstas, serão adicionados à equipe mais um árbitro e mais um operador.
Com dez módulos de treinamento, a CBF habilitou 39 árbitros, incluindo os que foram para a Copa do Mundo: Sandro Meira Ricci, os assistentes Marcelo Van Gasse e Emerson Augusto de Carvalho, e Wilton Pereira de Sampaio, árbitro que foi para a Rússia apenas para trabalhar com o VAR. Wilton é considerado o árbitro de vídeo número um do quadro da CBF.
INVESTIMENTO DE R$ 1 MILHÃO
Ao todo, serão 14 jogos com o VAR, das quartas até a decisão, com um custo total estimado em R$ 1 milhão (cerca de 70 mil por partida). A operação será responsabilidade da Broadcasting e tem um custo maior do que a oferta apresentada no conselho técnico do Campeonato Brasileiro. Antes do início da competição, a CBF propôs aos clubes um pacote com árbitro de vídeo nos 190 jogos do segundo turno, a um custo de R$ 50 mil por partida (3,8 milhões no total). Em votação, os clubes, que teriam que bancar o investimento, negaram a proposta. Desta vez, o investimento será integralmente do bolso da CBF.
Um dos maiores desafios do árbitro de vídeo no Brasil é a conscientização de torcedores, atletas e dirigentes. A tecnologia é usada em situações específicas e a falta de informação pode tornar a decisão da arbitragem polêmica. Por isso, a CBF aposta em um projeto de comunicação integrado. Os torcedores receberão panfletos. Dias antes das partidas, os times da Copa do Brasil terão uma reunião técnica protocolar para tirar todas as dúvidas e explicar o que o VAR pode ou não fazer, e quando pode agir.
– O árbitro tem que trocar o chip quando vai para a função de VAR, e o jogador também. Ele está acostumado a forçar simulações, o agarra-agarra, e isso vai deixar de ser necessário com a fiscalização do VAR. Vamos mostrar quatro ou cinco vídeos, no máximo, com exemplos claros.
EXPERIÊNCIA BRASILEIRA

Os estádios que podem receber os jogos das quartas de final estão sendo vistoriados pela equipe da Comissão de Arbitragem da CBF, que verificará a posição das câmeras, da cabine do VAR e a estrutura disponível em cada um dos palcos das quartas de final. O último a ser fiscalizado será justamente o Maracanã, que receberá o duelo entre Flamengo e Grêmio.
Essa não é a primeira vez que o VAR é utilizado em uma partida no Brasil. A CBF coordenou testes na final do Campeonato Pernambucano, entre Sport e Salgueiro, e a Federação Gaúcha também o fez no Gre-Nal do Campeonato Gaúcho. No ano passado, Flamengo e Independiente decidiram a Sul-Americana sob os olhares do árbitro de vídeo no Maracanã.
A experiência coordenada pela CBF em Pernambuco foi avaliada positivamente. O árbitro responsável pela tecnologia nas duas partidas da decisão foi Péricles Bassols, velho conhecido do torcedor carioca. O VAR entrou em ação nos dois jogos: na ida, levou cerca de seis minutos para confirmar um pênalti já marcado por José Woshington da Silva. Com o auxílio de sete câmeras, Bassols ajudou o juiz a confirmar sua marcação anterior.
Na volta, o árbitro de vídeo participou novamente da partida. O assistente Emerson Augusto de Carvalho assinalou uma saída de bola quando Everton, aos 25 minutos do segundo tempo, empatou o jogo para o Salgueiro. Mais uma vez o VAR foi acionado apenas para confirmar a marcação de campo, que se manteve depois da interferência de Bassols. Com o gol anulado, o Sport foi campeão pernambucano.
O QUE OS CLUBES DIZEM?
Plínio David De Nes Filho, presidente da Chapecoense
O clube sempre apoiou a implementação do VAR. Acho muito importante. Isso torna o resultado mais justo, vimos isso na Copa do Mundo com muito sucesso. Se utilizado com os mesmos critérios, terá tudo para ser um sucesso.
Eu sou a favor, como já tinha votado pelo VAR no Campeonato Brasileiro. Ele está fazendo falta nas outras competições. Se já tivesse funcionando no Brasileirão, provavelmente estaríamos com uma campanha melhor. Acho positivo.
Romildo Bolzan, presidente do Grêmio
Eu apoio, quero e desejo que seja aperfeiçoado. O VAR é um instrumento importante, que poderia ser até mesmo ampliado. Sou fã do conceito de estabelecer a justiça no futebol. Não existe coisa mais chata do que passar uma semana discutindo um erro de arbitragem.
