20/12/2016 08h05 – Atualizado em 20/12/2016 08h05
Erros em impedimentos aumentam; veja auxiliares e times mais eficazes
Por Valmir Storti, Rio de Janeiro
No ano em que Fifa e árbitros de vídeo bateram cabeça no Mundial de Clubes em relação a impedimentos, o Brasileirão também deu um passo atrás: na comparação com 2015, caiu a eficiência dos assistentes. O Índice Bandeira Branca do Espião Estatístico indica, no entanto, que a eficácia média de 103 auxiliares foi maior do que nos três anos anteriores (2012 a 2014), indicando que o desempenho no ano passado foi acima do que parece ser o padrão.
No Brasileirão-2016 foram marcados 1.435 impedimentos, dos quais foi possível analisar o desempenho dos bandeirinhas em 1.213 (84,5%). Nesses 1.213 impedimentos analisados, os assistentes acertaram ao marcar 1.030 (84,9%). Houve 183 erros (15,1% dos analisados). Em 2015, o índice de erros foi de 11,3%, a melhor das últimas cinco edições do Brasileirão. Em 2014, houve 16,4% de erros.

Há diversos fatores que impedem a análise dos 222 impedimentos tratados pelo Espião Estatístico como “duvidosos”, desde um chutão da defesa para um atacante avançado que está fora do quadro da TV nesse momento, passando por falta de marcação nos gramados até jogadas em que os ângulos disponíveis não nos permitem ter certeza se a condição era legal.
O MELHOR AUXILIAR DO BRASILEIRÃO VAI PARAR?

Ex-assistente Fifa, Dibert Pedrosa Moisés foi disparado o melhor auxiliar do Campeonato Brasileiro-2016 em relação à marcação de impedimentos. Presente em 19 partidas da Série A, ele marcou 54 impedimentos, uma média de 2,8 por partida. Dessas 54 marcações, foi possível analisar a eficiência em 46 (85%) e ele errou apenas uma vez, uma eficácia de 98%. Dibert é um dos casos de auxiliares que melhoraram em relação ao ano passado, quando sua eficiência foi de 90% (26 certos e três errados).
– Fico muito feliz por saber disso. É um reconhecimento importante. Uma pena que a CBF não leve em consideração o levantamento de vocês para premiar os melhores árbitros, porque o prêmio era de 300 mil reais neste ano, e o normal nessas situações é o árbitro ficar com 50% e os assistentes, com 25%. Na obra da casa que estou construindo para fugir do aluguel, 75 mil reais me ajudariam.
Em anos anteriores, os auxiliares com melhor desempenho apontaram o treinamento específico em campo, a mentalização das regras e das situações de jogo, ou a prática de esportes em que a concentração é importante, como artes marciais, como o “segredo do sucesso”. Não é o caso de Dibert Pedrosa Moisés.
– Sinceramente, nunca usei nenhuma técnica específica, a não ser meu comprometimento com o jogo, meu objetivo de fazer bem o que me disponho a fazer. Há três dias nasceu meu segundo filho. À beira do gramado, eu poderia perder a concentração se pensasse se estava tudo bem com a minha mulher. Então, fico focado, não penso em mais nada.
Para o auxiliar, o melhor que pode acontecer a um árbitro, na verdade, é envelhecer:
– É a prática que leva à perfeição, que leva a uma margem de erro mínima. Só se ganha corpo com o tempo. Demora para ganhar maturidade. Árbitro excelente desde muito jovem só conheci um, o Paulo César Oliveira. E, ainda assim, tenho a visão de que o trabalho de árbitro principal é mais fácil, porque, para o assistente, ou está certo ou errado. O principal vai compensando os erros ao longo do jogo. É muito ruim quando a gente erra. Se erra, sai da escala, fica fora da rodada.
Dibert Pedrosa Moisés diz que a CBF planeja reduzir o número de árbitros que vão trabalhar no Brasileirão, mas discorda desse plano:
– A CBF acha que pode trabalhar com um número reduzido de profissionais para ganharem experiência. Eu discordo. E se os escolhidos não derem retorno, vão reduzir ainda mais o quadro? Quem dá retorno maior vai continuar trabalhando. Por esse motivo que a Fifa chegou a estabelecer um limite de 45 anos para árbitros, para depois baixar para 43, mas em 2015 acabou eliminando o limite de idade, estabelecendo que estariam aptos todos os que conseguissem alcançar as exigências físicas. Tanto é verdade que o Emerson Augusto de Carvalho está no processo de seleção para a próxima Copa, mas no Mundial de 2018 ele estará com 46 anos.
A questão “idade” é significativa porque Dibert Pedrosa Moisés já está considerando como encerrada sua carreira nacional. Depois de ter deixado de ser assistente Fifa aos 41 anos (“por motivos políticos, injustamente”, faz questão de ressaltar), agora chegou aos 45 anos e diz que a CBF está “se omitindo em comunicar se segue ou não o que a Fifa determinou em janeiro de 2015 em relação a acabar com o limite de idade para árbitros”. A Confederação Brasileira de Futebol está em recesso, e a assessoria de imprensa da entidade informou que não se manifestaria a respeito do comentário antes de janeiro de 2017.
– A Federação do Rio já enviou a lista com os árbitros que estão com até 45 anos, mas a Federação de Pernambuco está terminando sua avaliação física e pode manter no quadro nacional Marcelo de Lima Henrique, que também vai fazer 46 anos, o que abriria um precedente para os demais. De qualquer modo, já fiz minha despedida. Devo trabalhar no Carioca-2017, depois, vai depender do que a CBF decidir.

NOS IMPEDIMENTOS CORINTHIANS SUPEROU AUSÊNCIA DE TITE
Ao ser convidado para treinar a seleção brasileira, o técnico Tite deixou um vácuo de comando que comprometeu a campanha do Corinthians no Brasileirão, mas uma característica associada ao treinador permanece: mais uma vez o Corinthians encerrou um campeonato como a defesa que mais deixou adversários em impedimento 133 vezes, média de 3,5 por partida.
Multiplique essa média por 38 rodadas, e o resultado será o gráfico abaixo. As barras azuis mostram quantas vezes a defesa deixou adversários impedidos; as vermelhas quantas vezes o ataque de cada time foi anulado por impedimento.
A segunda equipe que mais deixou adversários impedidos foi o Vitória, 107 vezes, média de 2,8. Em contas simples, para cada quatro impedimentos conquistados pela equipe baiana, os paulistas conseguem cinco. A maioria consegue muito menos.

De tanto treinar a sincronia de seu sistema defensivo, os atacantes do Corinthians acabaram figurando entre os menos flagrados em impedimentos. A jogada está muito bem mentalizada e resistiu bravamente às trocas de treinadores (o Corinthians teve quatro no Brasileirão, contando o interino Fábio Carille, que assumiu duas vezes).
Para se ter uma ideia de como o Corinthians faz bom uso da regra do impedimento, sua defesa conseguiu 81 impedimentos a mais do que os marcados contra seu ataque. Esse número é igual ou maior do que os impedimentos conquistados pela defesa de 15 dos 20 clubes do Brasileirão.
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Eduardo Sousa, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Marcio Menezes, Paula Carvalho, Roberto Maleson, Valmir Storti e Wilson Hebert.