Sinbaf, 20 de julho de 2016
Filho de Peixe, peixinho é. O provérbio, constantemente utilizado quando o assunto é um talento passado de pai para filho se encaixa perfeitamente na vida de Manoel Lima Matos.
Ex-árbitro, ele foi inspirado pelo pai, que também havia sido profissional do apito, e ainda serviu de inspiração para seu filho, um dos principais assistentes FIFA da América do Sul, Alessandro Matos.
Dono de um vasto currículo, Matos foi o entrevistado de julho do portal do Sinbaf. Após 23 anos da aposentadoria, o baiano, que hoje atua como comentarista esportivo contou detalhes da carreira que podem ser conferidos abaixo.
Manoel Matos, hoje comentarista esportivo da Rádio Itapoan FM
Sinbaf: O que te fez escolher ser árbitro de futebol? O que a profissão representa na sua vida?
Manoel Matos – Meu pai, Álvaro Mattos, foi arbitro internacional em Portugal e Diretor da Federação Bahiana de Desportos na década de 50. Ele me inspirou. Eu transformei em trabalho o q era diversão e o futebol me deu tudo, tenho respeito por todos que fazem parte do esporte mais praticado no mundo.
Sinbaf: Quando começou a carreira?
MM – Me formei em 1975.
Sinbaf: Quantos anos de carreira e por quantos ficou nos quadros da FBF e CBF?
MM – Fui arbitro aspirante a FIFA, CBF e FBF ate 1993.
Sinbaf: Quantos jogos apitou em toda a carreira? Qual deles considera o mais importante, aquele que nunca esquecerá?
MM – Apitei 849 jogos oficiais, mas também apitei na várzea, clubes sociais e até na cadeia publica. Já os jogos mais importantes da minha carreira foi um Flamengo x Inter, no Maracanã, em 1986, e um BAVI, em 1987. Ficaram registrados.
Manoel Matos quando atuava como árbitro
Sinbaf: Como você enxerga a arbitragem brasileira hoje? Evoluiu?
MM – Teve grande melhora no nível dos árbitros, principalmente os da FIFA e Aspirantes.
Sinbaf: E a arbitragem baiana? Vê novas revelações surgindo que possam manter um bom nível de arbitragem na Bahia?
MM – Em 2015, Paulo Celso Bandeira e Tania Regina fizeram um trabalho muito forte com os árbitros baianos e teve uma melhora na qualidade muito grande em campo.
Sinbaf: Você tem um filho, Alessandro Matos, que seguiu seu caminho e se tornou árbitro. Acompanha de perto o trabalho dele?
MM – O Alessandro é um caso de sucesso na arbitragem brasileira, o índice de acertos dele em finais de Brasileiro, finais de copa do Brasil, finais de estaduais e Libertadores e coisa para ser analisada pela FIFA.
Sinbaf: E como você enxerga o Alessandro como árbitro? Ao que você acha que se deve o fato dele se manter a tantos anos no quadro da FIFA?
MM – Vou emitir minha opinião como analista de arbitragem. Ele é o melhor assistente da América do Sul desde 2007. Em 2015 a Rede Globo e Rede Bandeirantes escolheram ele como o melhor. Isso ninguém tira dele, foi reconhecimento isento.
Sinbaf: A Bahia tinha a expectativa de ver o Alessandro na Copa do Mundo de 2014, mas na reta final não aconteceu. O que acha que atrapalhou a realização desse sonho? Faltou apoio de quem administra o futebol? Acredita que ele ainda pode representar o país em uma Copa do Mundo?
MM – Quando um profissional do alto nível de Alessandro, reconhecido mundialmente como destaque, não vai a uma Copa do Mundo, quem perde com certeza é o futebol, porque deixou de ter excelência nas decisões. Eu sou um privilegiado por ter um filho como ele, amigo, fiel e tem a honra como seu escudo.
Manoel Matos quando atuava como árbitro
Sinbaf: O que você acha que falta ao árbitro de futebol em termos de apoio e estrutura para desempenhar a profissão?
MM – O futebol mudou, está muito veloz, mais competitivo, a tecnologia evoluiu, dezenas de câmeras em vários ângulos e mostrando os erros dos árbitros, isso, torna-se deslealdade. O arbitro é humano, errar faz parte do jogo, a estrutura da arbitragem precisa dar ao arbitro mais conforto, mais segurança, mais apoio para ele exercer sua atividade, o arbitro ainda e amador no futebol profissional, o projeto do Manoel Serapião Filho, hoje uma das maiores autoridades do mundo em arbitragem, pode diminuir os equívocos.
Sinbaf: Já que tocou no assunto da tecnologia, o que acha que também pode mudar na arbitragem?
MM – Tem algumas coisas importantes a serem abordados também. A FIFA colocou muita responsabilidade nas costas do árbitro, na interpretação do toque de mão dentro da área. Correr o risco quando o braço está afastado do corpo se desviar a bola ficou complicado. Acho que a marcação tem que passar pela intensão e deliberação do jogador em praticar o ato. Pênalti não pode virar loteria, quando os parâmetros forem iguais às interpretações não podem ser diferentes. As leituras tem que ser coerentes para não confundir o torcedor, pois nossa cultura é polemizar o pênalti. A questão da simulação tem que ser tratada com rigor, jogador que induz o árbitro a erro tem que ser punido administrativamente. Isso é dolo, prejudica o futebol. Respeito à divergência, que se posicionem com suas convicções mesmo que sejam contra a minha. Entretanto, é preciso estudar as regras que são explicativas, Isso, eu faço sempre. Tem analista que briga com a imagem, não adianta querer induzir o torcedor.
Sinbaf: Qual seu ídolo na arbitragem e por quê?
MM – Tive alguns árbitros que gostava muito como Armando Marques, Manoel Serapião Filho e Paulo Celso Bandeira. Todos com muito talento.
Sinbaf: Você chegou a atuar como comentarista de arbitragem e hoje é comentarista esportivo de uma rádio de Salvador. Fora sua atuação na área, ainda pretende colaborar com a arbitragem fora de campo? De qual forma?
MM – Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade de conversar com vocês. Admiro o Arilson Bispo da Anunciação, equilibrado, tem tido uma postura correta como presidente do Sinbaf, promovendo cursos, encontros e valorizando os árbitros do nosso estado. Estou comentarista da rádio itapoan FM 97.5, o que me honra, mas continuo árbitro e à disposição para contribuir com um pouco de experiência.
Fotos: Arquivo Pessoal